Os smartphones sempre foram alvos atraentes para criminosos, devido ao seu alto valor e fácil revenda. Nos últimos dois anos, especialmente em São Paulo, esse interesse cresceu significativamente. No entanto, os bandidos não estão mais focados apenas nos aparelhos em si, mas nas informações e acessos valiosos que eles oferecem, como contas bancárias e cartões de crédito das vítimas.
Esse aumento de fraudes expõe como a cibersegurança deixou de ser uma preocupação exclusiva das empresas e passou a impactar diretamente a vida cotidiana das pessoas. Hoje, até crianças e adolescentes têm sido vítimas desses ataques, o que ressalta a importância de incluir a educação em cibersegurança nos currículos escolares, adaptada a cada faixa etária.
Os criminosos digitais estão se infiltrando em todos os setores da sociedade. Enquanto empresas se preocupam com o roubo de dados e possíveis paralisações, pessoas temem cair em golpes ou ter suas identidades roubadas. Além disso, as crianças, muitas vezes expostas ao ambiente online, podem inadvertidamente colocar as finanças de suas famílias em risco ao acessarem jogos ou plataformas inadequadas.
Ao instruir crianças e jovens sobre cibersegurança, estamos preparando uma geração menos vulnerável aos ataques cada vez mais sofisticados do cibercrime. Com sistemas de segurança avançados, os criminosos passaram a mirar diretamente as pessoas, tornando a educação digital uma ferramenta essencial para proteger a sociedade como um todo.
O crime digital prospera na era da informação. Antigamente, assaltos a bancos e carros-fortes ofereciam um ganho considerável, mas com alto risco de prisão ou até morte. Hoje, com a digitalização, criminosos realizam inúmeros pequenos golpes que geram altos lucros com baixo risco. A falta de cultura de cibersegurança, tanto em indivíduos quanto em empresas, facilita a ação desses criminosos.
Segundo Paulo Baldin, CISO e CTO da Flipside, organizadora do Mind The Sec, o maior evento de cibersegurança da América Latina, o crime sempre leva vantagem, pois “não há regras e qualquer cenário pior é uma oportunidade para eles”. Mikko Hyppönen, uma das maiores autoridades globais em cibersegurança, destaca que o Brasil é altamente visado por ainda utilizar sistemas obsoletos, o que os torna vulneráveis a ataques. Ele lembra que qualquer dispositivo “inteligente” é, por definição, vulnerável se não for devidamente atualizado e protegido.
“Estamos vivendo uma espécie de ‘miniguerra mundial cibernética’, com nações atacando umas às outras”, afirma Gabriel Bergel, uma das principais lideranças em cibersegurança presente no evento Mind The Sec. O especialista chileno destaca que o Brasil possui uma das comunidades de cibersegurança mais maduras da América Latina, mas também é o berço de novos malwares e ransomwares, reforçando a necessidade de o governo criar políticas modernas de combate ao crime digital.
A crescente adoção de inteligência artificial agrava ainda mais a situação, pois os criminosos têm usado essa tecnologia para aumentar a eficiência de seus ataques, tanto na manipulação de vítimas com engenharia social quanto no desenvolvimento de malwares que invadem sistemas. “Em cibersegurança, tudo é uma questão de troca”, explica Mikko Hyppönen. Segundo ele, quando privacidade e segurança entram em conflito, muitas vezes não é possível ter as duas.
Antigamente, a segurança digital se limitava a instalar antivírus, firewalls e monitorar e-mails. No entanto, com o avanço do trabalho híbrido, em que funcionários podem se conectar de qualquer lugar, e a integração de sistemas corporativos com plataformas de terceiros, como clientes e parceiros, a abordagem tradicional ficou ultrapassada. Agora, o conceito de “observabilidade” é crucial, que consiste em monitorar constantemente sistemas e usuários para identificar comportamentos suspeitos e evitar ataques cibernéticos.
Como alerta Alex Stamos, uma autoridade americana no tema, “a defesa contra invasores avançados requer a coleta de grandes volumes de telemetria, alertas em tempo real e uma resposta ágil antes que o ataque seja concluído.” Ele destaca que, em redes corporativas, esse processo não precisa comprometer a privacidade, mas ao proteger grandes plataformas ou países, há um desafio em equilibrar a proteção individual e coletiva.
Flavio Povoa, gerente de engenharia de sistemas da HPE Aruba Networking, reforça a importância de entender o comportamento dos usuários na rede e utilizar inteligência artificial para identificar e prevenir possíveis ameaças sem comprometer a produtividade. “Se uma política de segurança afeta a produtividade, ela se torna inviável”, comenta ele.
Em um cenário cada vez mais moldado pela inteligência artificial, onde os smartphones nos dão acesso a serviços e dados pessoais, a segurança digital não pode ser negligenciada. A mesma tecnologia que facilita nossas vidas também nos expõe a riscos. Precisamos reconhecer esses perigos, criar estratégias de defesa e estar prontos para agir, caso ocorra um ataque.
O cibercrime afeta todos – ninguém está imune. Quanto mais cedo formos educados sobre cibersegurança, mais eficaz será nossa resposta aos desafios do mundo digital.