A Imagem como Escudo: O Novo Campo da Defesa
Na CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets), o depoimento da influenciadora Virgínia Fonseca ficou marcado por mais do que suas respostas: foi a imagem cuidadosamente projetada que capturou os olhares mais atentos. Com moletom estampando a filha, óculos discretos, maquiagem leve e um copo rosa da marca Stanley à mesa, a influenciadora parecia emitir uma mensagem silenciosa: “sou uma mulher comum, uma mãe, e não uma vilã”.
Essa composição estética não foi ignorada pelo público — muito menos pelas redes sociais. Nas horas seguintes ao depoimento, perdeu mais de 200 mil seguidores e passou a ser comparada a figuras controversas como Suzane von Richthofen e Natália Becker, conhecidas por adotar posturas visuais infantilizadas em momentos de exposição pública. Coincidência? Pouco provável.
Esse tipo de julgamento simbólico revela uma camada mais profunda dos riscos que envolvem exposição pública não controlada — riscos que afetam não apenas indivíduos, mas também marcas e instituições envolvidas, direta ou indiretamente.
A Psicologia por Trás da “Estética da Inocência”
A psicologia social há décadas estuda como a aparência pode moldar a percepção de culpa ou inocência. Um dos conceitos mais relevantes aqui é o chamado “babyface bias” — a tendência inconsciente de atribuir traços positivos como honestidade, vulnerabilidade ou ingenuidade a pessoas que possuem aparência ou comportamento associado à infância.
Elementos como:
- roupas com referências infantis ou familiares,
- postura retraída,
- fala doce ou tímida,
- acessórios lúdicos,
- olhar cabisbaixo ou com expressão passiva,
…ativam mecanismos empáticos no observador, mesmo sem intenção consciente. O resultado? Uma percepção atenuada de responsabilidade, periculosidade ou dolo — mesmo diante de acusações graves.
Essa forma de comunicação não verbal opera de forma poderosa em julgamentos — sejam formais ou sociais — e costuma ser cuidadosamente planejada em estratégias de defesa. O problema é que, quando mal utilizada, ela pode parecer falsamente calculada, e provocar o efeito oposto ao desejado.
Defesa Criminal e Imagem Pública: O Risco Além da Acusação
Na prática penal, é comum que advogados orientem seus clientes sobre como se apresentar em juízo ou em entrevistas. Não se trata apenas de evitar exageros — trata-se de construir uma imagem calculada para despertar empatia ou minimizar a rejeição. Essa estratégia ganha ainda mais importância quando o julgamento não é apenas técnico, mas público e midiático, como em CPIs, júris ou reportagens de alta audiência.
Ao associar-se visualmente à maternidade e à domesticidade, Virgínia buscava — consciente ou orientada — distanciar-se da ideia de empresária articuladora de negócios obscuros. Assim como Suzane, que apareceu com blusa de estampa infantil em sua entrevista no programa do Gugu, ou Natália Becker, que usou uma camiseta da Minnie em rede nacional, a defesa visual tenta deslocar o foco do ato para a aparência da pessoa.
Esse tipo de estratégia revela a existência de um risco imaterial, mas altamente destrutivo: o da interpretação simbólica da imagem pessoal ou institucional. Empresas envolvidas em situações similares podem ter sua reputação colocada em xeque — ainda que juridicamente estejam protegidas. E é nesse ponto que surgem soluções preventivas que lidam com gestão de risco reputacional, percepção pública e exposição emocional.
Quando a Tática Vira Contra: O Julgamento do Público
Mas há um efeito colateral crescente: o público já percebe esse padrão. Os comentários nas redes sociais demonstram que essas estratégias estão cada vez mais decodificadas — e quando a plateia identifica a tentativa de manipulação visual, o efeito é o oposto. Em vez de empatia, há rejeição, desconfiança e sarcasmo.
No caso de Virgínia, a frieza nas respostas e a imagem de “boa moça” foram interpretadas por muitos como desconexão da gravidade da situação, o que impulsionou a perda de seguidores e críticas generalizadas. Ou seja, a defesa visual pode funcionar — mas está longe de ser infalível.
Empresas que enfrentam situações de crise pública, envolvimento com figuras expostas ou investigações precisam considerar não só a resposta jurídica, mas também os impactos simbólicos e perceptivos associados ao caso. Muitos desses efeitos são previsíveis — e até preveníveis — com apoio especializado.
O Papel da Inteligência Estratégica: Antecipar o Impacto Imaterial
No contexto moderno, o risco deixou de ser apenas físico ou digital. Condutas mal comunicadas, exposições mal planejadas ou falas ambíguas podem desencadear crises reputacionais de difícil controle — afetando negócios, alianças, relações com o público e até a segurança dos envolvidos.
É nesse cenário que surgem plataformas como a Wartiger, desenvolvidas para mapear riscos organizacionais além do óbvio. A Wartiger oferece diagnósticos sobre comportamentos, falhas de conduta, lacunas de percepção e exposição emocional de pessoas e processos. Ao integrar análise de risco com educação estratégica, ela ajuda empresas a prevenir julgamentos paralelos, crises de imagem e exposições vulneráveis.
Conclusão: A Nova Face da Defesa no Século XXI
No tribunal da opinião pública, palavras contam — mas imagens pesam. O caso de Virgínia Fonseca evidencia como o campo da defesa criminal já ultrapassou as petições e entrou nos códigos visuais, nos arquétipos emocionais e na linguagem não verbal.
Suzane, Natália e agora Virgínia são exemplos de como a apresentação estética torna-se arma de narrativa, usada para suavizar a imagem diante de acusações ou suspeitas. Mas em um mundo hiperconectado e hipercrítico, a imagem precisa ser verdadeira — ou pelo menos parecer.
Negócios, líderes e marcas estão, cada vez mais, no radar da sociedade — e qualquer falha simbólica pode virar uma crise real. Por isso, compreender o impacto das aparências e antecipar esses riscos é tão importante quanto ter bons advogados ou uma equipe de segurança.
No final, a pergunta não é apenas o que foi dito, mas também:
como você quis ser visto — e como foi percebido?